palavrinhaserelepe

sexta-feira, 29 de junho de 2007

.melhor de mim.

Muitas vezes, tendo a pensar que o melhor de mim já foi, que aquela Sílvia de sete anos de idade que jogava totó melhor que os meninos do colégio não volta mais, ou aquela de doze anos e a imaginação solta, prestativa, pintando, colando, a postos pra o que fosse necessário, ou aquela dos quinze e os cartões de amor que fazia pra o namorado, ou aquela dos dezessete e a amizade dispensada aos amigos de farra e de estudo, ou a dos dezoito e os bordados na casa da tia...

Outras vezes penso que o melhor está por vir, que a Sílvia dos 25 fará bolo pra o almoço de domingo, a dos 30 fará o almoço de domingo, a dos 32 amamentará Júlia e fará o pai dela feliz, a dos 35 publicará o primeiro livro de alguém trazendo toda a alegria que poderia ter sido perdida sem a editoração, a dos 40 vai animar a amiga recém-divorciada levando uma caixa de fotografias antigas, a dos 45 reencontrará um velho amigo no supermercado e manterá contato com ele pro resto da vida, a dos 50 vai ser como Ana Coeli, a dos 70 como Maria de Lourdes...

Preciso lembrar mais vezes que o melhor de mim está aqui em mim.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

.além.

além de mim e de você, existe uma coisa.
além, bem além, mais além do que eu tenho vontade de imaginar.
e nesse além a gente se chama. pede socorro.

recuso o além. não por ele em si, mas porque você me chama mais do que eu posso ajudar.
e quando eu te chamo, você não vem.

além de tudo, esse além.

além.

domingo, 10 de junho de 2007

.fuga.

sempre que paro para pensar, prefiro ler um livro. Woody Allen, Edgar Allan Poe, Luis Fernando Veríssimo e Chico Buarque não me ajudaram muito a decidir o que fazer da vida. Ainda bem que há muito para ler.

.sobre a vontade de parar o tempo.

São cinco da tarde agora e por mais alguns anos. Anos esses que eu passo lendo, lendo, pensando, descobrindo pessoas que já foram, pensando mais e lendo, lendo, lendo...

As gráficas pararam no meio da impressão do próximo best-seller, quem sabe o primeiro livro que eu comprarei quando a Terra voltar a girar.

O cantor ficou de boca aberta bem no ínicio do refrão da música que gravava, terei prazer em descobrir o seu som por indicação de um amigo.

Eu? eu acabara de fechar o livro que ganhei no meu último aniversário e imediatamente coloquei no topo da lista de obras a serem lidas até o final do ano e nem me dei conta de que tudo e todos pararam até que vi as cortinas do quarto infladas por um vento imóvel.

Contudo eu me movia. Percebi até um ritmo mais acelerado nos meus movimentos, nos pensamentos e nos olhos. Eu estava inquieta e embora tudo me parecesse estranho, eu agia naturalmente, e foi com calma e velocidade que li e pensei os clássicos. Um tanto de filosofia. Outro de literatura. Um passeio pelas artes.

E quando a missão me pareceu cumprida, voltei ao ritmo normal. As cortinas voltaram a dançar. O cantor soltou o refrão. As máquinas voltaram a trabalhar. O sol se pôs.

Uma vontade acabara de se realizar, e eu estava feliz por ver tudo se mexer novamente.

.a menina Esperança aprendeu, enfim, a não esperar.

De um lado da cidade, ela chega à sorveteria cinco minutos atrasada, "olhar aquelas vitrines em cima da hora é um bom jeito de fazê-lo criar uma expectativa", ela pensou.

Do outro lado da cidade, ele espera o ônibus ansiosamente maldizendo o infeliz momento em que lembrou que tinha esquecido de passar o perfume que ela provavelmente não sentiria, já que aquele desodorante novo que mamãe comprara na última feira sobrepunha qualquer outro cheiro... infeliz momento porque o ônibus passara naqueles trinta segundos, e agora ele teria de esperar vinte minutos até que o outro chegasse, ainda mais debaixo daquele sol, suando aquele tanto, "infeliz momento" e nada melhor para um sorvete.

Vinte minutos de atraso do ônibus mais quinze até que ele chegasse ao destino. Tempo suficiente para que Esperança tivesse mais uma inesperada decepcionante surpresa que, de tão corriqueira, não deveria mais ser inesperada, comprasse o adorado sorvete de maracujá com bastante cobertura, flocos de arroz e um chiclete de pêssego que endureceria de frio antes que o sorvete acabasse. A água mineral bebida lentamente fez um pouco do gosto do sorvete desaparecer, e, ao final, ela resolveu partir.

Ele descera do ônibus apressado, estava ansioso e sabia que teria de se acalmar e fingir estar tranqüilo e, principalmente, sob hipótese nenhuma, explicar o motivo do atraso.

Chegou à sorveteria quando ela dobrava a outra esquina, esperou, meia hora, nem o melhor dos perfumes justificaria aquela demora, sorvete, mais meia hora, e ele foi embora sem Esperança.