.a menina Esperança aprendeu, enfim, a não esperar.
De um lado da cidade, ela chega à sorveteria cinco minutos atrasada, "olhar aquelas vitrines em cima da hora é um bom jeito de fazê-lo criar uma expectativa", ela pensou.
Do outro lado da cidade, ele espera o ônibus ansiosamente maldizendo o infeliz momento em que lembrou que tinha esquecido de passar o perfume que ela provavelmente não sentiria, já que aquele desodorante novo que mamãe comprara na última feira sobrepunha qualquer outro cheiro... infeliz momento porque o ônibus passara naqueles trinta segundos, e agora ele teria de esperar vinte minutos até que o outro chegasse, ainda mais debaixo daquele sol, suando aquele tanto, "infeliz momento" e nada melhor para um sorvete.
Vinte minutos de atraso do ônibus mais quinze até que ele chegasse ao destino. Tempo suficiente para que Esperança tivesse mais uma inesperada decepcionante surpresa que, de tão corriqueira, não deveria mais ser inesperada, comprasse o adorado sorvete de maracujá com bastante cobertura, flocos de arroz e um chiclete de pêssego que endureceria de frio antes que o sorvete acabasse. A água mineral bebida lentamente fez um pouco do gosto do sorvete desaparecer, e, ao final, ela resolveu partir.
Ele descera do ônibus apressado, estava ansioso e sabia que teria de se acalmar e fingir estar tranqüilo e, principalmente, sob hipótese nenhuma, explicar o motivo do atraso.
Chegou à sorveteria quando ela dobrava a outra esquina, esperou, meia hora, nem o melhor dos perfumes justificaria aquela demora, sorvete, mais meia hora, e ele foi embora sem Esperança.
3 Comments:
Gostei da prosa! Eu estava mesmo desatualizada nos textos do seu blog. São todos inspiradores. Pena que minha prosa é só prosa, sem muita poesia misturada, se não, eu queria ter um blog também, que fosse igual ao seu quando crescesse. Tudo bem. Os cadernos me dão prazer o suficiente.
acho que suas palavras sempre inibem as minhas. pelo menos você consegue entender que eu sinto, e olho e penso tudo que eu queria dizer? mas não sei transformá-las em palavrinhas serelepes dançando pelo ar. toda vez que eu venho aqui, fico muda de admiração.
não consigo entender como posso ser você melhorada minha querida.
mas obrigada mesmo assim, Esperança.
(L)
há um tempão n passo por aki.
há um tempão n tenho paciência pra ler nada.
há um tempão n sentia dentro de mim tanta vontade de voltar a escrever...
beijos serelepes.
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