Tudo bem, eu confesso, estou sofrendo. Sim, sim, desde que você se foi. Que foi quando foram todos. Ou fui eu quem fui. O que importa é que sofro as dores de estar aqui presa, sozinha e suja. Sim, é a sujeira o que me dói mais. Ou o peso da consciência, porque, se eu estivesse louca, as dores seriam menores.
Tem aqueles dias em que acordo às sete da manhã e preciso colocar logo os óculos de sol. Esses são mais raros; o prazer é sempre menos constante. E tem os outros, os dias em que a noite se une à noite da noite anterior. Ah, meu bem, esses são os mais difíceis. Talvez porque sejam longos demais, talvez pela coincidência infeliz de neles eu não conseguir chorar.
Só há uma coisa mais dolorosa do que chorar de amor: não conseguir chorar de amor. Se pudesse, eu choraria rios e mares. Mas não choro pelo motivo ínfimo de não ter amor em mim.