E, enquanto ele beijava mais uma rosa do jardim (ou uma borboleta ou lagarta, não sei. Quero deixar bem claro que não quero insultar ninguém e que só o tempo dirá — e não para mim — o que realmente fomos), eu lia ele num livro conhecido. E lembrava. E fazia um esforço espontâneo para encaixar a gente naquela história...
Eu conheci meu principezinho nas areias da praia do Cabo Branco, em João Pessoa, e, como a rosa — com espinho e orgulho — fui cativada por aquele de cabelos dourados (e olhos verdes dançantes e sorriso sem um pedacinho).
Ao longo de cinco meses, limpamos alguns vulcões e concordamos piamente quando o livro diz que “a linguagem é uma fonte de mal-entendidos”. Porém, eu, como rosa descansada que sou, deixei de limpar um vulcão que veio a explodir, expulsando o principezinho do nosso planeta e levando-o para mundos distantes.
Fiquei eu plantada no nosso planeta e ele danou-se a descobrir rosas e mais rosas por aí. Acredito (e espero) que ele tenha pensado: “Eu me julgava rico de uma flor sem igual e é apenas uma rosa comum que possuo”.
— Mas é claro, meu bem, debaixo dessas pétalas, sou sentimento e confusão, como qualquer outra rosa de qualquer planeta, “mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro”.
E foi por essa necessidade que eu senti saudade. E foi por essa necessidade que ele sentiu saudade. Mas o nosso planeta não se reconstituiria tão facilmente depois de uma tragédia daquelas. E, embora tentássemos enxergar com o coração e ver além, muito além do que vemos com os olhos (e mesmo com os meus, que são grandes), o essencial nos fugiu.
E ele foi rever as rosas... É neste ponto que estamos agora, e foi exatamente aqui que o esforço se mostrou insuficiente, porque, por mais que eu diga que eu sou a tua rosa, que foi comigo que perdeste o teu tempo, que a minha importância é infinita, tu és quem tem de concluir (ou não) que eu sou única no mundo.
“O que tanto me comove nesse príncipe adormecido é sua fidelidade a uma flor; é a imagem de uma rosa que brilha nele como a chama de uma lâmpada, mesmo quando dorme...”
Só o tempo dirá o que fui. Se lagarta, se borboleta, se uma rosa de jardim ou se fui e sou a rosa, aquela rosa.